Segundo campanha da Organização das Nações Unidas (ONU), 11 de fevereiro é o Dia Internacional para Meninas e Mulheres na Ciência, lembrado com uma perspectiva de alertar para exclusões do público feminino e promover igualdade de gênero em todas as esferas do conhecimento científico [1]. Para a UNESCO, a meta de igualdade na educação, ciência e cultura, até 2030, é considerada prioridade global. Sobre tal tema, urge a análise e a luta do movimento estudantil sobre o que significa, de fato, o protagonismo feminino na ciência [2].
Em um primeiro momento, precisa-se compreender que subestimar é um ação, historicamente, aceita e normalizada dentro das sociedades quando o assunto é as capacidades do ser feminino. Nas culturas ocidentais, não é novidade mulheres acorrentadas a obrigatoriedade do cuidado da prole, à monogamia, a todo um regime imposto pelo patriarcado, em detrimento de suas multiplicidades e potencialidades no trabalho, nas universidades, nas pesquisas e nos seus demais papéis sociais [3]. Tais fenômenos são observáveis desde a infância quando, desde as idades mais tenras, as meninas são desencorajadas e questionadas acerca de suas capacidades cognitivas, limitando-as, tolhendo-as de direitos, reverberando, inclusive, em suas escolhas profissionais.
Na ciência, segmento desse universo capitalista ocidental, embora haja crescente inserção feminina e reconhecimento das mulheres em diversos segmentos pós-lutas feministas [3], o mito da meritocracia e a pseudoideia da equidade de gênero ainda são reforçados nas academias, nos grandes centros de pesquisas e nas mais diversas profissões, quando percebemos, segundo dados de 2016, que apenas 28% dos pesquisadores em todo mundo são mulheres [2].
É nesse contexto de busca por equidade salarial e equidade de reconhecimento, acarretando empenho exacerbado na produtividade científica, que muitas das subjetividades, das sensibilidades e até das fragilidades humanas das mulheres são superficializadas, sequestradas e esquecidas para tentar se “adequar” a uma corrida incessante pelo reconhecimento tanto na carreira científica ou carreira profissional. Nesse sentido, mesmo diante de tantos avanços e até do reconhecimento da necessidade de debater questões de gênero na ciência e em todos os seus segmentos, entende-se que há diversas questões que precisam ser aprofundadas.
Sob essa ótica, surgem os questionamentos: a quem serve essa busca incessante das mulheres sobre um reconhecimento científico que, muitas vezes, rende transtornos depressivos e de ansiedade por necessitar conciliar suas demandas acadêmicas com a supertarefa em cuidar dos filhos e da casa? Como os atores sociais poderiam atuar na luta coletiva para diminuir essas disparidades de gênero quando o assunto é ciência e perda de privilégios da figura do homem? Quem arca com as consequências das crises de autoestima quando o sistema em que estamos inseridos decide mostrar suas falhas e seus machismos? Quando e como as mulheres conseguirão, de fato, ter suas produções científicas e seu reconhecimento devido?
Percebemos que apenas um dia não é suficiente para “comemorar” ou relembrar as faces com que os machismos reverberam no sucesso profissional e científico das mulheres na sociedade em todo o seu cotidiano. É preciso muita pesquisa, muito debate, muita luta e empoderamento feminino para transformar a educação médica e científica atual. Mais ainda, é preciso compreender as estruturas sociais que fazem necessárias a predominância de uma ciência machista, a manutenção de papéis de gênero e a violência mental das corajosas que se impõe; é preciso ver o quadro todo. E então, é preciso lutar e resistir coletivamente para que o dia 11 de fevereiro não precise ser mais lembrado. A Coordenação Científica conta com todas e todos para esse crescimento diário e coletivo!
[1] http://www.onumulheres.org.br/noticias/mulheres-sao-apenas-28-das-pesquisadoras-em-todo-o-mundo/
[2] https://en.unesco.org/unesco_science_report
[3] NARVAZ, Martha Giudice; KOLLER, Sílvia Helena. Metodologias feministas e estudos de gênero: articulando pesquisa, clínica e política. Psicologia em Estudo, v. 11, n. 3, p. 647-654, 2006.