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Na semana do Dia Internacional das mulheres a Coordenação de Cultura da DENEM, CoCult, traz a biografia de diversas ilustres mulheres que foram muitas vezes esquecidas pela nossa sociedade, tendo como o principal fator para essa inviabilização o machismo estrutural tão presente em nosso cotidiano. A semana vem, portanto, com o ideal de trazer à memória o trabalho dessas mulheres que transformaram nossa sociedade, mas que mesmo assim foram muitas vezes apagadas pela história. Como dizia a escritora Virginia Woolf : “por muito tempo na história, ‘anônimo’ era uma mulher”.

1. CAROLINA MARIA DE JESUS

Nascida em 14 de março de 1914 na comunidade rural em Sacramento, Minas Gerais, foi uma grande escritora da literatura brasileira, mas que ainda nos dias de hoje permanece desconhecida para muita gente. Não é por acaso que Carolina de Jesus teve tanta dificuldade de ser reconhecida dentro do seu próprio país, se o trabalho das escritoras é geralmente subvalorizado e apagado, o trabalho de uma escritora negra, pobre e favelada encontra ainda mais dificuldades para superar a barreira da invisibilidade.

Carolina foi catadora de lixo e moradora da favela do Canindé, em São Paulo. Utilizava cadernos que encontrava no lixo para escrever sobre seu cotidiano e pensamentos, que se tornou um diário e passou a ser publicado em um jornal. Dentre os principais escritos da ilustre escritora estava a temática da desigualdade social, a composição da condição humana e o seu cotidiano: a cidade, a favela, as pessoas.

A escritora teve sua obra traduzida para mais de dez idiomas, dentre os seus principais trabalhos, literários podemos citar: “Quarto de Despejo”, seu maior sucesso, depois transformado em CD; “Pedaços de Fome”, Diário de Bitita e “Um Brasil para Brasileiros”.

Carolina foi uma mulher forte, determinada e lutadora que passou por diversas dificuldades na vida e enxergou na literatura uma arma para fugir da tão cruel realidade que lhe rodeava.

“As horas que sou feliz é quando estou residindo nos castelos imaginários. ” (trecho de “Quarto de Despejo”)

Conheça mais:
– Curta-Metragem: https://www.youtube.com/watch?v=Chl-lg87LVQ

– Filha fala sobre vida e obra da escritora: https://www.youtube.com/watch?v=qRjDmmWAFEo

– “Quarto de Despejo” (1961) Álbum Completo: https://www.youtube.com/watch?v=t3dzlAr4euo

2. NISE DA SILVEIRA

Alagoana, marxista e revolucionária, Nise da Silveira ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia em 1921 como a única mulher numa turma de 157 estudantes. Graduou-se em 1926 com a tese ‘’Ensaios Sobre a Criminalidade da Mulher no Brasil’’, retornou a sua cidade natal, mas foi no Rio de Janeiro que Nise se estabeleceu e engajou-se na arte, na literatura e na política. Militou no Partido Comunista Brasileiro e, durante o Estado Novo, por sua militância, passou 15 meses no presídio Frei Caneca, onde compartilhou cela com Olga Benário e conheceu o escritor Graciliano Ramos, que a descreve em sua obra ’’Memórias de um Cárcere’’.

Extremamente humana, Nise enxergou a riqueza daqueles que até então estavam condenados a “loucura” e a exclusão. Rebelou-se contra a psiquiatria tradicional que aplicava choques elétricos, isolamento, camisas de força, psicocirurgia e entre outros métodos que a remetiam as torturas do Estado Novo. Em 17 de abril de 1944 foi então reintegrada ao serviço público, no Hospital Pedro II, antigo Centro Psiquiátrico Nacional, no Rio de Janeiro, onde propôs um tratamento humanizado que usava a arte para reabilitar.

Foi pioneira das ideias da psiquiatria social, mas foi com a terapia ocupacional que seu trabalho ganhou notoriedade. Em 1954, criou a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação do Centro Psiquiátrico Pedro II, que ganhou grande reconhecimento com a criação de um atelier de pintura. As obras produzidas por seus pacientes já foram expostas nacional e internacionalmente e, em 1952, foi inaugurado o Museu de Imagens do Inconsciente, que guarda todo o acervo.

Introduziu animais como forma de reavivar afetividade dos pacientes e estabelecer um ponte com ‘’mundo exterior’’, utilizou a arte como uma comunicação não verbal única e adequada para reabilitação. Nise conseguiu com a terapia ocupacional um alcance bem mais significativo que formas tradicionais de psicoterapia. Com as pinturas, os desenhos e as modelagens de seus pacientes observou a recorrência de mandalas e de temas mitológicos e religiosos. Tal expressão viva do inconsciente a aproximou da psicologia Junguiana e do próprio Jung, com quem passou a trocar cartas discutindo a linguagem das produções dos artistas psicóticos da psiquiatra alagoana.

Nise foi uma mulher corajosa e a frente de seu tempo apontou as falhas da psiquiatria, questionou o modelo manicomial, contestou práticas e demonstrou soluções. Suas ideias derrubaram os muros do manicômio e deram a loucura uma outra perspectiva. Seus feitos foram e ainda são uma representação viva de resistência ao modelo manicomial e da capacidade da mulher de transformação.

Conheça mais:

– Longa-metragem: “Nise– O Coração da Loucura” (Trailer): https://www.youtube.com/watch?v=UeAUNvcM_xk

– Nise da Silveira – Posfácio: Imagens do Inconsciente: https://www.youtube.com/watch?v=EDg0zjMe4nA

– Fotobiografia: Nise da Silveira – Caminhos de uma Psiquiatra Rebelde

3. MARIA DA PENHA

Maria da Penha Maia Fernandes nasceu no dia primeiro de novembro de 1945 em Fortaleza. Farmacêutica e mãe de três filhas, teve sua vida mudada drasticamente em uma noite de maio de 1983 devido a brutal violência cometida por seu marido: um tiro nas costas enquanto dormia, deixando-a paraplégica.

Vinte e três anos depois do tiro nas costas, a mulher seria homenageada dando seu nome à Lei 11.340, assinada em 2006: A Lei Maria da Penha, que responsabiliza autores de ameaças, agressões, assassinatos e violência doméstica.

Maria da Penha precisou travar uma grande batalha para que seu agressor não saísse impune: após 8 anos e duas tentativas de assassinato, o seu ex-marido vai ao tribunal e é condenado a 15 anos de prisão. Entretanto, o julgamento é anulado, mostrando como as portas e os ouvidos das autoridades estavam fechadas para os casos de violência doméstica.

Em 1996, seu agressor vai para um segundo julgamento. É condenado a dez anos e seis meses de prisão, mas ganha o direito de recorrer em liberdade. Durante esse período, Maria da Penha segue engajada na luta por justiça, ganha aliados na dura batalha, como grupos feministas e de direitos humanos. Somente em 1998, sua denúncia chega à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). A organização então adverte o Brasil, recomendando que seu agressor seja responsabilizado sob pena do governo brasileiro ser declarado conivente com a violência contra a mulher.

Maria da Penha é reflexo de uma realidade dolorida, silenciosa e cega. A batalha para que a Lei 11.340 seja plenamente divulgada em todo o país e levada a sério pela justiça brasileira é uma obra constante e perpétua que precisa da ajuda de todos e todas nós. A taxa de feminicídios brasileira é a quinta maior do mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2015, o Mapa da Violência sobre homicídios entre o público feminino revelou que, de 2003 a 2013, o número de assassinatos de mulheres negras cresceu 54%, passando de 1.864 para 2.875.

Hoje, dia 8 de março, data na qual é celebrada o Dia Internacional das Mulheres, trazemos à tona a história de uma mulher cujo nome é símbolo, força, resistência e esperança. A luta pelo fim da violência contra a mulher não é simples, principalmente quando essa violência é ensinada e perpetuada em um modelo social machista, misógino e opressor desde o momento em que nascemos. A ignorância e a passividade social, vindas de uma moral construída de forma violenta e que privilegia homens brancos, heterossexuais, cisgêneros e ricos, alimentam uma intolerância que cresce diariamente, resultando na morte de mulheres de todas as idades, classes, raças, sexualidades e gêneros.

O caminho no combate a essa realidade ainda é longo, principalmente quando se trata de mulheres negras, lésbicas, bissexuais e trans, mas há muita coisa que se pode fazer. Faça sua parte. Maria da Penha Maia Fernandes mudou e muda a realidade de milhares de mulheres brasileiras. Você também pode fazer parte dessa mudança.

Conheça mais:
– Maria da Penha: um caso de litígio internacional: https://www.youtube.com/watch?v=NB-hglQil-w

– A vida de Maria da Penha: https://www.youtube.com/watch?v=GBU-nJNlnd0

– Documentário “10 Anos da Lei Maria da Penha: O que esperar da próxima década?”: https://www.youtube.com/watch?v=uFPUJUhLADs

4. ELZA SOARES

“Eu vou cantar até o fim,
Eu sou mulher do fim do mundo”.

Elza da Conceição Soares, mais conhecida como Elza Soares, nasceu em 23 de junho de 1937, no Rio de Janeiro. É uma cantora e compositora brasileira que navega por diversos ritmos, dentre eles o samba, a bossa nova, a MPB e o hip-hop.

Filha de um operário e de uma lavadeira, Elza passou sua infância na Vila do Vintém, em Padre Miguel, desde muito nova começou a trabalhar, carregando latas de água na cabeça, para contribuir com o sustento da família. Aos 12 anos foi obrigada a largar os estudos e se casar, aos 13 teve seu primeiro filho, João Carlos, que nasceu prematuro e desnutrido, morrendo ainda recém-nascido. Aos 20 anos ficou viúva, com cinco filhos para criar, teve de trabalhar em vários tipos de emprego, foi doméstica, faxineira, lavadeira e passadeira, mas sempre cultivou o seu grande sonho que era o de ser cantora.

Fez sua primeira participação no programa de Ary Barroso, na rádio Tupy. A princípio não foi levada a sério, por seu jeito humilde de se vestir e falar, mas ao cantar Elza pode mostrar todo seu potencial. Depois de passar por muitas dificuldades para adentrar no meio artístico, por ter uma origem humilde, ser mulher e negra, Elza conquistou muitos através de sua voz e composições fortes.

Elza teve inúmeras músicas no topo das listas de sucesso, dentre elas: “Se Acaso Você Chegasse”, “Boato”, “Cadeira Vazia”, “Só Danço Samba” e “Aquarela Brasileira”. Recebeu indicações ao GRAMMY Awards Latino com o álbum: “Do Cóccix Até O Pescoço”. Em 2000 foi eleita pela BBC de Londres “a cantora do milênio”.

Mulher forte, guerreira, lutadora, Elza aos 79 anos de idade e mais de 60 de carreira continua levando através das suas composições e de sua voz rouca a luta das mulheres, dos LGBTs e da negritude, rompendo desde sempre com diversos paradigmas sociais por meio da força da verdadeira “Mulher do fim do mundo”.

Conheça mais:
– “Mulher do Fim do Mundo” (Viedeoclipe): https://www.youtube.com/watch?v=6SWIwW9mg8s

– “A Carne (Negra)” [Ao vivo]: https://www.youtube.com/watch?v=Lkph6yK6rb4

– “Maria da Vila Matilde” (Ao vivo): https://www.youtube.com/watch?v=-m393EagdSk

– “Meu Guri” (A capela): https://www.youtube.com/watch?v=K-sepKbQv_k

– Entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=8JRxB4Sivxo

– “Mulher do Fim do Mundo” (2015) Álbum completo: https://www.youtube.com/watch?v=KLw-JzqtVOg

5. MARGARIDA MARIA ALVES

“É melhor morrer na luta do que morrer de fome”

Em 5 de Agosto de 1933 nasce a filha mais nova de nove irmãos, a qual seria presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, em 1973, e lutaria por toda sua vida pelos direitos dos trabalhadores rurais de carteira de trabalho assinada, 13º salário, jornada de trabalho de oito horas e férias. Além de ser responsável por mais de 100 ações trabalhistas na justiça do trabalho local.

Por sua luta, viveu em constante ameaça de grandes empresas e senhores de engenho locais ainda remanescente do domínio açucareiro. Mesmo nessa situação, ela fazia questão de expor aquilo que vivia, e mantinha todos informados desta situação, mesmo em eventos públicos.

Em 12 de agosto de 1983, em frente a sua casa, foi atingida por um tiro no rosto deflagrado por um assassino de aluguel a mando de um magnata local. De todos os acusados, apenas dois foram julgados e foram absolvidos. Já após sua morte recebeu o Prêmio Pax Christi Internacional, em 1988 e ganhou um dia em sua memória na cidade em que lutou e morreu. Em 2000, deu seu nome à “Marcha das Margaridas”, que ocorre sempre em agosto e reúne milhares de mulheres trabalhadoras rurais em Brasília.

Margarida Alves foi e ainda é símbolo de força e luta, sua história e exemplo ecoam entre as mulheres trabalhadoras rurais e dão força para a luta diária por representatividade e melhores condições de trabalho e de vida no campo.

Conheça mais:

– Fundação Margarida Alves: http://www.fundacaomargaridaalves.org.br/

– Vídeos:
https://www.youtube.com/watch?v=QU0Na3RhcvY
https://www.youtube.com/watch?v=ARpAXtVIJVI

– Música: https://www.youtube.com/watch?v=pbxr1ygUGTw

– Margarida Alves: Coletânea Sobre estudos Rurais e Gênero
http://transformatoriomargaridas.org.br/…/1406309472wpdm_1o…

– Margarida Alves: II Coletânea Sobre estudos Rurais e Gênero
http://www.mda.gov.br/…/pageflip-4204234-487363-lt

6. ANGELA DAVIS

Angela Davis é um ícone na luta pelos direitos civis e direitos das mulheres, feminista, professora universitária e escritora, nascida em 26 de Janeiro de 1944 no Alabama, um dos estados mais racistas dos Estados Unidos. Sua história de lutas começa com sua mãe, Sallye Davis, militante que organizava o Southern Negro Youth Congress, organização influenciada pelo Partido Comunista Americano cuja função era fortalecer e articular alianças afro-americanas no Sul do país. Dessa forma, Davis cresceu cercada por pensadores e ativistas afro-americanos que influenciaram sua personalidade e seu desenvolvimento intelectual.

Seu trajeto acadêmico começou na Universidade de Brandeis, Massachusetts, onde ela era uma de apenas três pessoas negras em sua turma. Apesar de ter iniciado seus estudos com bacharelado em Francês, ao conhecer Herbert Marcuse, Davis percebeu que sua área de interesse era a filosofia, graduando-se em 1965 como uma das melhores estudantes de sua turma. Herbert influenciou não apenas a escolha profissional de Davis, como a “ensinou que era possível ser uma acadêmica, ativista e uma revolucionária”, disse ela ao relembrar sobre ele numa entrevista televisiva em 2007. Foi professora da UCLA nos departamentos de História das Conscientizações e Estudos Feministas e hoje recebe o título de Professora Emérita.

Durante os anos 60, Davis tornou-se militante ativa do Partido Comunista Americano e dos Panteras Negras, organização política socialista revolucionária ligada ao nacionalismo negro. Foi candidata a Vice-Presidência duas vezes, em 1980 e 1984, na campanha de Gus Hall. Em 1970, por acontecimentos relacionados a militância no Partido Panteras Negras, Angela Davis passou a figurar a lista dos 10 fugitivos mais procurados do FBI, tendo sido descrita por Richard Nixon como uma “ativista muito perigosa”. Foi encarcerada por 18 meses durante seu julgamento, no qual foi absolvida. Nesse momento surge a campanha “Free Angela Davis”, com repercussão nacional e apoio de figuras mundialmente conhecidas como John Lennon e Mick Jagger.

É também durante seu período encarcerada que Angela inicia sua luta a favor da abolição do sistema carcerário nos Estados Unidos. Davis vê o sistema prisional como uma continuação das políticas racistas contra negros e imigrantes, tendo desde então sido a maior exponente do movimento anti-carcerário. Para Davis, a abolição prisional envolve mais do que o fechamento das prisões, já que “o complexo industrial carcerário consiste em uma serie de relações entre cárceres, polícia, empresas, mídias e o Governo”.

Conheça mais:

– Entrevista sobre o lançamento do seu livro “Mulheres, raça e classe” no Brasil: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/09/1816391-brasil-e-eua-fracassaram-em-abolir-escravidao-afirma-angela-davis.shtml

– Trailer do documentário “Free Angela Davis”: https://www.youtube.com/watch?v=PoXo7CS5Vyw

– O feminismo negro de Angela Davis: http://www.revistaforum.com.br/…/o-feminismo-negro-de-ange…/

– Angela Davis na “Woman’s March”: https://www.youtube.com/watch?v=TTB-m2NxWzA

– Angela Davis: mulheres, raça e classe: https://pcb.org.br/portal2/10460

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