Convocações de atos pró-Bolsonaro e contra instituições democráticas foram divulgadas pelas redes sociais nesta semana, amplamente apoiadas por grupos de direita e pelo próprio presidente. O fato levanta um receio embasado na história do nosso país, cuja democracia é ainda jovem e diariamente ameaçada: é possível que se reinstale uma ditadura militar no Brasil?
Um verdadeiro museu de grandes novidades: a atual conjuntura é repleta de analogias que permitem a relação de 2020 com 1964. A replicação de discursos de ódio e de políticas neofascistas, o apoio ao fim de direitos sociais básicos, a criminalização dos movimentos sociais, o uso repressivo de forças policiais e o incentivo ao uso de métodos golpistas para supostamente solucionar os problemas do país são alguns sintomas que contribuem para a instauração de um cenário conspirativo e amedrontador.
Desde o período pós-golpe (2016), os projetos “a favor da família brasileira e da tradição” permeiam as decisões do Governo em todos os âmbitos. A partir de 2018, o avanço do “bolsonarismo”, através do investimento em métodos desonestos de propagação de discursos mentirosos, extremistas e superficiais, contribuiu ainda mais para que líderes políticos se sintam amparados popularmente a rasgar as páginas da Constituição. A aliança que governa o Brasil hoje não se preocupa em esconder suas raízes neoliberais, totalitárias, racistas, misóginas, homofóbicas, tampouco seus interesses privatizadores, anti-trabalhadores, ou sua política entreguista e repressora. A aliança que governa o Brasil hoje se preocupa em tornar tudo isso comum e institucionalizado. O golpe de Bolsonaro vêm se desenvolvendo desde sua posse. Através do uso irresponsável de meios de comunicação, da replicação de discursos fáceis e da ridicularização de trabalhos e movimentos sérios e comprometidos com a população, o Governo busca esconder sua incompetência gestora e mascarar interesses maiores, avançando no projeto de sucateamento da saúde e da educação, no retrocesso de direitos e no aumento da desigualdade social.
O gatilho para a convocação dos atos a favor de Bolsonaro e contra o Congresso Nacional (CN) e o Supremo Tribunal Federal (STF) foi o desagradado do Governo após a definição do Orçamento da União para 2020 pelo CN. O Governo alega, sem provas concretas, a intenção do Congresso em construir um “parlamentarismo não oficial”. Entre outras mobilizações de conteúdo golpista por parte de apoiadores do Governo, Eduardo Bolsonaro, questionou se “o povo choraria caso houvesse uma bomba no Congresso”. Olavo de Carvalho, por sua vez, declarou que “ou se articula a união do Presidente com o Povo e as Forças Armadas ou a nação inteira, que esteve se libertando, voltará a ser escrava de grupos criminosos autodenominados, cinicamente, como ‘instituições democráticas’”. Para além dos discursos, práticas concretas demonstram políticas relacionadas à forças de segurança cada vez mais pautadas no fortalecimento de uma ideologia de extrema-direita: a troca do ex-ministro da casa civil, Onyx Dornelles, pelo general Braga Netto, o responsável pela Intervenção no Rio de Janeiro (que resultou em mais de 400 mortes em 2019); o amplo trabalho de base na militarização da polícia; e a implementação de escolas cívico-militares como suposta solução para a educação pública no ensino fundamental e médio são alguns dos recentes indícios da possibilidade de uma saída autoritária por parte do Governo.
A última semana trouxe à superfície a ameaça à democracia, ameaça esta reinstaurada no Golpe de 2016 e corroborada dia após dia. Por tudo isso, a luta pela garantia da manutenção da democracia deve ser conjunta. A hora de se unir e inverter a correlação de forças é agora. O silêncio, em tempos como esse, representa conivência com golpistas, fascistas e ditadores.