A Luta Antimanicomial busca reconhecer os usuários de saúde mental, historicamente tratados com extrema violência e com regimes de privação de liberdade pelos serviços de saúde e pela sociedade em geral, como cidadãos aos quais todos os direitos garantidos por constituição devem ser integralmente aplicados, como o direito à liberdade. Dessa forma, o movimento construído é importante para que as práticas centradas em lógica médico-hospitalar sejam repensadas e combatidas para que os estigmas limitantes que repousam sobre tais indivíduos sejam, finalmente, superados.
Assim, a Luta se propõe a preservar a liberdade física dos indivíduos, com a abolição das internações compulsórias, e a liberdade de pensamento, com a redução da aplicação de tratamentos que privam o indivíduo da experiência única de ser em si. Ademais, está baseada na análise da determinação social do processo saúde e doença. As disparidades sociais privilegiam as classes dominantes em termos de prevenção e tratamento dos quadros hoje considerados transtornos mentais. Em contrapartida, os estratos sociais não privilegiados são massivamente submetidos a fatores que agravam o adoecimento mental – tais como a exploração desenfreada do trabalhador pelos donos dos meios de produção, que não garantem ambiente de trabalho, remuneração, segurança, estabilidade empregatícia e jornadas de trabalho justos as trabalhador, fatores que indubitavelmente afetam sua saúde mental negativamente – e a tratamentos historicamente consolidados e baseados em uma lógica manicomial.
Dessa forma, a Luta Antimanicomial reconhece que a superação da desigualdade social e da lógica hegemônica de exploração vigente é absolutamente necessária para extinguir os fatores sociais que provocam o adoecimento mental e, consequentemente, para que o modelo manicomial de saúde seja superado.
Os retrocessos, que surgiram escondidos em meio a um falso discurso de ampliação da rede de atenção em saúde, hoje se apresentam cada vez mais descarados. Ao invés de se aprovarem medidas que busquem melhorar o financiamento e gestão da rede de atenção psicossocial, existe uma necessidade de alguns grupos políticos de substituição dos CAPS/NAPS pelos hospitais psiquiátricos e comunidades terapêuticas. Dessa forma, certos setores sociais como a indústria farmacêutica e instituições religiosas obtêm o lucro desejado, a saúde pública se precariza e a Luta Antimanicomial é marginalizada juntamente com os pacientes mentais. O que desperta a necessidade de luta!