Mulheres e a Ciência no Brasil*

* Texto produzido pela Coordenação Científica (CoCien) para o 8 de Março. Publicado oficialmente no dia 3 de março de 2021.

 

Historicamente, a ciência sempre possuiu uma estrutura atuante centrada na figura masculina, de forma que ora excluía as mulheres, ora negava as suas produções científicas, sendo efetivada através de discursos e práticas nada neutros. [1, 2] Em meados do século 19, as mulheres cientistas criaram suas próprias sociedades científicas para compensar a recusa de seus colegas homens em reconhecer seu trabalho. Foi recorrente a premiação de colegas homens ao Prêmio Nobel, enquanto existiam mulheres que deveriam ser premiadas e reconhecidas pelo seu trabalho, como Rosalind Franklin e suas contribuições para a descoberta da dupla hélice do DNA. [3]

No Brasil, a representação desigual das mulheres é um fenômeno em movimento e vem se alterando lentamente na base da pirâmide educacional. Segundo dados do censo de 2014 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), somente 46% dos líderes dos grupos de pesquisas eram mulheres. A situação piora quando olhamos para o número de pesquisadoras no topo da hierarquia da pesquisa nacional, em especial na área da saúde, onde somente 35% são do sexo feminino [3].

Durante o lockdown, a produção científica feminina reduziu significativamente em relação à masculina, o que está ligado ao estrutural sexismo em relação ao cuidado do lar e da família. Segundo dados de pesquisa realizada pelo grupo brasileiro, Parents in Science, apenas 47,4% das docentes e 34% das pós-graduandas brasileiras com filhos conseguiram publicar seus trabalhos como planejados durante a pandemia da COVID-19, contrastando com as taxas de 65,3% e 58,4% para as mesmas categorias do sexo masculino. Os dados fortalecem a discussão sobre como o gênero e a maternidade contribuem para a sub-representação feminina na ciência [4].

Ressaltamos que embora as mulheres cheguem a alguns espaços, a academia e a produção científica reproduzem a macroestrutura patriarcal. Por isso, homenageamos neste post todas as mulheres que continuam lutando por uma verdadeira integração, indo além de uma solução para desigualdades, mas sim buscando a valorização, financiamento e divulgação das cientistas que transformam, e sempre transformaram, nossa realidade.   

 

 

REFERÊNCIAS:

 

  • [1] CONCEIÇÃO, Josefa Martins da; TEIXEIRA, Maria do Rocio Fontoura. MULHERES NA CIÊNCIA: UM ESTUDO DA PRESENÇA FEMININA NO CONTEXTO INTERNACIONAL. # Tear: Revista de Educação Ciência e Tecnologia, [s. l], v. 7, n. 1, p. 1-18, jan. 2018. Disponível em: file:///C:/Users/Windows/Downloads/2710-Texto%20do%20artigo-10236-1-10-20180704%20(1).pdf. Acesso em: 01 mar. 2021. 
  • [2] ORESKES, Naomi. O racismo e o sexismo na ciência não desapareceram: aqueles que argumentam que o sistema irá se autocorrigir magicamente estão se enganando. Aqueles que argumentam que o sistema irá se autocorrigir magicamente estão se enganando. 2020. Disponível em: https://www.scientificamerican.com/article/racism-and-sexism-in-science-havent-disappeared/. Acesso em: 01 mar. 2021.
  • [3] Diretório dos grupos de pesquisa no Brasil Lattes. Distribuição percentual dos pesquisadores por sexo segundo a condição de liderança – Censo 2014. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Disponível em: http://lattes.cnpq.br/web/dgp/censo-atual;jsessionid=QTxxLSKZIPO5wg3RgY+z4I+c.undefined?p_p_id=56_INSTANCE_dTppP9ZLSw7E&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_state_rcv=1&p_p_col_id=column-3&p_p_col_pos=6&p_p_col_count=7. Acesso em: 01 mar. 2021.
  • [4] PARENT IN SCIENCE (Rio Grande do Sul). PRODUTIVIDADE ACADÊMICA DURANTE A PANDEMIA: Efeitos de gênero, raça e parentalidade: Parent In Science, 2020. 13 slides, color. Disponível em: https://327b604e-5cf4-492b-910b-e35e2bc67511.filesusr.com/ugd/0b341b_81cd8390d0f94bfd8fcd17ee6f29bc0e.pdf?index=true. Acesso em: 01 mar. 2021.